terça-feira, 27 de novembro de 2007

Agora é o novo logo da Porto Seguro

Está pronto(a) para analisar mais um redesenho de marca corporativa? Vou comentando já o redesign, porque quero chegar logo à parte mais interessante, a sua apresentação.






Por esse ponto de vista, achei a eliminação do barco uma lástima. O que entrou no seu lugar é mais um dos milhões de desenhos semi-abstratos, baseados em simples arcos vetoriais, que literalmente infestam o design gráfico contemporâneo. Sem brincadeira, desenhei uma réplica suficientemente convincente da vela com um blend de 8 etapas dentro de um objeto de curvas com 6 nós, gastando nisso cerca de 4 minutos. E todo dia vejo por aí centenas de marcas que foram construídas exatamente dessa forma. Elipse aqui, parábola ali, logo pronto. Pergunta inconveniente: será que tudo o que restou no repertório do designer gráfico digital foi a curva Bézier? Realmente? Sério?Apresentação é tudo... ou não?No momento em que você carrega o novo site da Porto Seguro, aparece um popup obscurecendo a home page. Esse popup é a apresentação da nova marca. Mas ele funciona corretamente apenas no Internet Explorer. Aparentemente, não foi testado no Firefox nem no Safari. Se você for uma criatura sensata que usa um desses outros browsers, seja no Mac ou no PC, verá isto:









O menu visual da home page entra bem na frente do popup, destruindo o efeito. Você é obrigado a deslocar a janelinha com o mouse para poder ler. Como não é uma janela normal de sistema do Windows ou Mac OS, você pode nem descobrir que ela permite ser deslocada. A falha no código do site é uma bola fora do web design, para além do fato de popups serem péssimos em si mesmos, como conceito.Pode ser só implicância minha, mas acho que, quando uma marca precisa ser explicada, é porque ela tem algum problema. No presente caso, o problema é a explicação em si mesma. Desculpe o rigor da crítica, pois redigir o texto da apresentação e aprová-lo entre múltiplos escalões de executivos cheios de pitacos - sim, trabalho no ramo e conheço essa via crucis - deve ter sido uma tarefa tortuosa e esquecível. Mas será que não dava pra evitar o festival de lugares-comuns? Senão, vejamos:
Redesenhar a marca de uma empresa reconhecida no mercado é sempre um grande desafio. A solução deve equilibrar o impacto visual da atualização da identidade com a preservação dos elementos estruturais de reconhecimento da marca com o seu público.Até aqui, beleza. Mas conforme já vimos, o pobre navio foi afundado; ficou apenas uma vela, bem menos reconhecível.
Antes de desenhar a nova marca, foi também realizada uma pesquisa com a direção, clientes e corretores, detectando-se, assim, os valores intrínsecos que deveriam ser expressos: excelência, prestatividade, transparência e humanismo. O arredondamento das pontas do quadrado azul, assim como a definição de um símbolo mais dinâmico e construído a partir de curvas, busca comunicar esses conceitos.Os cantos arredondados do quadrado, outra característica extremamente banal no universo das marcas - está aí o Itaú para me endossar - representariam prestatividade e humanismo...?! Ou essas seriam virtudes expressas da vela...?Então tá: por esse critério, só para ficar nos valores-chavões que toda empresa adora exibir - o VW empilhado da Volkswagen significaria confiabilidade; o manuscrito da Coca-Cola, sensibilidade; o rosto estilizado da LG, permanência... Não, pare. Isso não é sério! É essa conversa vaga, quando vem de profissionais do design, que tira uma lasca da integridade do ofício e faz parecer, aos olhos dum leigo ( = cliente) que, efetivamente, a essência da criação é facil e qualquer bobagem se justifica. O resultado são os tantos clientes chatos, mimados, palpiteiros: afinal, foi-lhes ensinado que nós, criativos, acreditamos que o arredondamento de uma parte de um símbolo exala transparência e excelência. Por favor...
O novo símbolo traduz essa idéia, uma vez que vários elementos se somam para criar um todo harmônico. Também preservou a referência à caravela da marca de origem, figurativa no início, depois, estilizada.Concordo com o todo harmônico (se bem que o texto blocado na largura do quadrado ficaria mais bonito). Mas note bem: o barco original não era uma caravela. Era uma embarcação maior e mais moderna. E a referência não foi preservada, não: as velas do barco eram um conjunto de seis retângulos mais dois triângulos, enquanto a atual é uma construção Bézier. Pode parecer chatice, mas não há parentesco visual entre as duas concepções de velas.
O padrão cromático anterior foi mantido, preservando-se assim um importante elemento de reconhecimento do público.Não foi, não. O azul ultramarino antigo e o ciano novo são muito diferentes, tanto em matiz como em tonalidade. Confundi-los é uma questão cultural, mais do que perceptual.

Um comentário:

Mario disse...

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